«Néné - O melhor futebolista da história do futebol na relação "mal amado no activo" vs "elogiado após a retirada". Um caso de reconhecimento tardio, mas mais que justo.»
João Tomaz.
João Tomaz.
Quando comecei a prestar atenção ao futebol, foi quando Néné começou a preparar as malas para deixar o futebol. Por essa razão, esta pequena homenagem a este grande futebolista é feita com base nas imagens/vídeos disponíveis e em relatos de quem o viu a jogar no Benfica entre 1966 e 1986 (em 1986 tinha catorze anos...).
João Tomaz, no prefácio, acaba por de forma simples resumir de forma avassaladora a carreira daquele a quem eu chamo "o Ninja". Dizia-se que não se esforçava, não sujava os calções, não metia o pé... Que estava à mama e era medroso! Bem, e que tal ler umas palavras dele próprio datadas de 1976?
«Já há tempo dei uma entrevista ao jornal A BOLA em que afirmei que maluco é que não sou. Se existem jogadores que metem o pé em certos lances onde por norma só vão buscar problemas para eles e para os clubes que lhes pagam, isso e lá com eles.
Eu não sou assim. […] o que sei, isso sim, é fugir na hora exacta, mas normalmente com a bola a ficar na minha posse, […], tentando não me molestar sem vantagem para ninguém. Mesmo assim ainda este ano fui o segundo melhor marcador do campeonato e, caso curioso que a maioria dos sócios talvez não tivesse reparado, marquei nos sessenta e tal encontros que disputei durante a temporada, entre oficiais e particulares, a media de um golo por desafio, o que ficou longe de qualquer outro colega e, muito menos, da totalidade dos atacantes portugueses.
Eu não sou assim. […] o que sei, isso sim, é fugir na hora exacta, mas normalmente com a bola a ficar na minha posse, […], tentando não me molestar sem vantagem para ninguém. Mesmo assim ainda este ano fui o segundo melhor marcador do campeonato e, caso curioso que a maioria dos sócios talvez não tivesse reparado, marquei nos sessenta e tal encontros que disputei durante a temporada, entre oficiais e particulares, a media de um golo por desafio, o que ficou longe de qualquer outro colega e, muito menos, da totalidade dos atacantes portugueses.
A final da Taça UEFA de 1983 |
Quanto ao insultarem-me e dizerem-me que lhes faz confusão como consigo aguentar uma hora e meia sem nunca reagir menos delicadamente, posso garantir que aguentaria até um dia inteiro, pelo que escusam de continuar a adoptar tal sistema que me dispenso de criticar. Sou assim por temperamento pelo que jamais tomarei uma atitude menos correcta para com tais adeptos do meu clube. Aliás, tenho até para mim que aqueles que assim procedem não são os sócios com dez, quinze, vinte e mais anos de associados. São os que entraram na «família» há dois ou três anos e que, talvez por serem novos, reagem mais rapidamente para se tornarem notados e mostrarem aos mais velhos o seu muito Benfiquismo...
Uma verdade poderei dizer: o meu sistema de jogar é este desde miúdo. Não me sinto arrependido de ter sido sempre um jogador correcto para os adversários e para o público. Creio com tal sistema haver sempre servido com dignidade o meu clube e, simultaneamente, o clube que me paga. Quanto às palavras que me dirigem continuarei talvez a ouvi-las mas, como as atitudes ficam com quem quem as pratica, nada é comigo.»
E que tal 22 hat-tricks, 8 pokers e 4 pentas? Mais não será necessário, penso eu...
A famosa final do pinto da costa |
Algumas histórias interessantes acerca dele: o Néné tinha, no inicio dos anos 70, uma das melhores marcas nacionais nos 100 metros (oficiosamente), e isto em cronometragem manual feita pelos treinadores, sem equipamento especializado de corrida e com o jogador a correr em relva... Parece que fazia pouco mais 11 segundos. No serviço militar, em Mafra, realizou um recorde, que parece-me que ainda detém até hoje, da pista de obstáculos, já lá vão quase... 50 anos!
Daí que tenha começado a extremo mas pouco tempo depois, pela perspicácia de Mário Wilson, tenha ido mais lá para a frente.
Daí que tenha começado a extremo mas pouco tempo depois, pela perspicácia de Mário Wilson, tenha ido mais lá para a frente.
À pergunta se alguma vez tinha recebido alguma proposta choruda de algum clube de nomeada, Néné remata de forma certeira com esta resposta: "Sim, em 1972, do Real Madrid. Houve até reuniões entre os presidentes Borges Coutinho e Santiago Bernabéu. Ofereciam 25 milhões de pesetas ao Benfica pelo meu passe. Mas não. Sou do Benfica e pronto"... Muitos devem estar a dizer que ele não batia bem da cabeça...
As conquistas dele são as seguintes enquanto jogador do Benfica: Dez Campeonatos Nacionais (1968/69, 1970/71, 1971/72, 1972/73, 1974/75, 1975/76, 1976/77, 1980/81, 1982/83, 1983/84). Sete Taças de Portugal (1969/70, 1971/72, 1979/80, 1980/81, 1982/83, 1984/85, 1985/86) e duas Supertaças (1980/81, 1985/86)... Já nem falo do facto de que foi o jogador que mais vezes vestiu o tal do manto sagrado...
Também é o jogador do Benfica mais internacional pela Selecção: 66 vezes. Marcou 22 golos, sendo o último aquele que permitiu a Portugal poder sonhar com ser campeão europeu!
Apresento-vos um texto lindíssimo da autoria de Fernando Soromenho sobre a carreira de Néné. Quando se usam as palavras certas, um texto torna-se imortal...
Nota: Fotografias que se seguem, foram retiradas do Fórum Ser Benfiquista, após a publicação do utilizador Rodolfo Dias a quem agradeço. Sem este momento, este artigo ficava menos mágico.
A maioria chama-lhe/conhece-o como assassino silencioso mas é como um verdadeiro Ninja que o vejo. Muitos poderão levar a coisa só para o lado bélico da definição da própria palavra mas será sempre uma visão redutora do que Nené era...
O Ninja era um agente secreto do Japão feudal, que possuía qualidades extraordinárias e/ou surpreendentes. Em segredo, ele tinha de invadir territórios inimigos de modo a descobrir falhas que resultassem em vantagem para o seu lado. Para tal, o Ninja teria de possuir equilíbrio, ser hábil, concentrado, e flexível (médio, extremo e avançado...). Bem, Néné era isto tudo!
A mais recente entrevista que encontrei. Mais uma vez, Benficar com Néné é um privilégio:
Era tudo só acerca do futebol e nada mais... E que tal ver para crer? Puro Minimalismo em acção...
Nota: Por ter colocado o StairWay To Heaven dos Led Zeppelin como banda sonora, o YouTube, o Dailymotion e o Facebook retiraram o som... Em silêncio também dá para nos rendermos à magia de Néné. Se alguém estiver interessado...
Numa altura em que o Benfica está com dificuldade em acertar agulhas...
Obrigado por tudo Tamagnini Manuel Gomes Batista.
«Era o Néné que, quase pairando, quase sem se sentir o seu peso no relvado e dissimulado como devem ser os pontas-de-lança que parecem jogar de smoking, surgia de onde menos se esperava para fazer o que é mais difícil e mais valioso no futebol.»
Pedro F. Ferreira in Tertúlia Benfiquista
As conquistas dele são as seguintes enquanto jogador do Benfica: Dez Campeonatos Nacionais (1968/69, 1970/71, 1971/72, 1972/73, 1974/75, 1975/76, 1976/77, 1980/81, 1982/83, 1983/84). Sete Taças de Portugal (1969/70, 1971/72, 1979/80, 1980/81, 1982/83, 1984/85, 1985/86) e duas Supertaças (1980/81, 1985/86)... Já nem falo do facto de que foi o jogador que mais vezes vestiu o tal do manto sagrado...
Muito Benfica (8), assim tinha de ser. |
Apresento-vos um texto lindíssimo da autoria de Fernando Soromenho sobre a carreira de Néné. Quando se usam as palavras certas, um texto torna-se imortal...
Nota: Fotografias que se seguem, foram retiradas do Fórum Ser Benfiquista, após a publicação do utilizador Rodolfo Dias a quem agradeço. Sem este momento, este artigo ficava menos mágico.
A maioria chama-lhe/conhece-o como assassino silencioso mas é como um verdadeiro Ninja que o vejo. Muitos poderão levar a coisa só para o lado bélico da definição da própria palavra mas será sempre uma visão redutora do que Nené era...
O Ninja era um agente secreto do Japão feudal, que possuía qualidades extraordinárias e/ou surpreendentes. Em segredo, ele tinha de invadir territórios inimigos de modo a descobrir falhas que resultassem em vantagem para o seu lado. Para tal, o Ninja teria de possuir equilíbrio, ser hábil, concentrado, e flexível (médio, extremo e avançado...). Bem, Néné era isto tudo!
O inácio em 1978/79... |
Era tudo só acerca do futebol e nada mais... E que tal ver para crer? Puro Minimalismo em acção...
Numa altura em que o Benfica está com dificuldade em acertar agulhas...
A Taça Ibérica de 23 de Agosto de 1983 |
«Era o Néné que, quase pairando, quase sem se sentir o seu peso no relvado e dissimulado como devem ser os pontas-de-lança que parecem jogar de smoking, surgia de onde menos se esperava para fazer o que é mais difícil e mais valioso no futebol.»
Pedro F. Ferreira in Tertúlia Benfiquista
Algumas fotos da carreira deste ponta de lança formidável:
E Pluribus UNUM
Sabe tão bem recordar estes momentos que as mais maravilhosas lendas vivas nos ofereceram... Eu tive a felicidade de o ver jogar. E que equipas que o Benfica tinha nessa época... Por muitos bons jogadores que tenhamos hoje, nenhum se compara a esses heróis que tantas alegrias nos deram!
ResponderEliminarObrigado Néné e a todos os responsáveis que encheram o meu coração ainda adolescente de benfiquismo!
Excelente artigo!
ResponderEliminarMais uma vez te agradeço João.
EliminarAliás, estava para fazer um artigo mais leve mas o teu prefácio deixou-me um pouco intrigado. Depois modifiquei o conteúdo de modo a que o panorama fosse mais abrangente.
Saudações Gloriosas
Que grande artigo e grandes imagens de uma das lendas vivas do Glorioso.Que curriculo impressionante.Ainda me lembro de ser puto e o meu pai(que é sportinguista mas gosta sobretudo de ver futebol)dizer que nunca tinha visto um jogador com a velocidade do Nené.Começou a extremo numa equipa de juniores na qual figuravam imortais como Humberto Coelho-Artur Correia-Vitor Martins ou o luvas pretas João Alves.Chegou a titular nos seniores com Jimmy Hagan e depois foi pedra basilar e o grande goleador com Pavic-o grande capitão Mario Wilson( que o transformou de extremo para avançado)-Mortimore-Baroti e Eriksson.Só com Csernai e na segunda passagem de Mortimore é que deixou de ser titular.Foi também figura na selecção da qual deteve o recorde de internacionalizações de onde seria desapossado pelo labrego portista João Pinto.Esteve no segundo lugar da Mini Copa de 72(nessa altura o Real Madrid segundo se consta ofereceu uma fortuna para o contratar) e no Euro 84 onde marcou o golo que nos apurou para as meias finais.Depois de pendurar as botas desenvolveu um trabalho fantastico no departamento juvenil do Benfica ajudando a fabricar gerações de craques que posteriormente se tornariam referencias da equipa principal.Se tivesse que o definir seria aos olhos dos adeptos uma especie de Izaias ou Cardozo das décadas de 70 e 80.Um muito obrigado e uma grande vénia ao craque que nunca sujava os calções.
ResponderEliminarObrigado pela visita Alexandre.
EliminarTudo dito.
Saudações Gloriosas