quarta-feira, 9 de julho de 2014

Jogos Imortais: Sport Lisboa e Benfica 2 Bordéus 1

Foi há sessenta e quatro anos, no dia 18 de Junho de 1950, que o Benfica venceu a primeira grande competição internacional. O Benfica, que ainda representava Portugal, conquistou a Taça Latina, uma competição criada pela FIFA - ver Jornal A Bola também, após uma final em que venceu os franceses do bordéus por 2-1 e que durou cerca de 266 minutos!
Convém antes de mais, fazer uma contextualização. O futebol Português vivia uma época "verde". Entre 1946 e 1949, Correia, Vasques, Albano, Peyroteo e Travassos (os violinos) eram o terror das balizas adversárias e ajudaram o sporting a conquistar um tri-campeonato. O Benfica, vendo as coisas mal paradas, tratou de contratar um treinador inglês de forma a potenciar o valor que os jogadores do plantel aparentavam ter: Ted Smith.

Se na primeira época de Smith, o Benfica ficou a cinco pontos do sporting no campeonato, por outro lado conquistou a Taça de Portugal tendo um goal average de 36-6 em seis jogos...

Na época seguinte, Smith orientou um plantel vasto em qualidade (última época de Espírito Santo ao serviço do clube) numa caminhada de 26 jornadas para a conquista do título de campeão, também com seis pontos de vantagem sobre o sporting. Como a Taça Latina era disputada nos finais de época, o Benfica foi a jogo representar Portugal.

Aparte: depois deste ano sensacional, o sporting voltou a "assumir o poder" até 1954-1955...

Vamos lá à final! Não é do meu tempo pelo que tive apresentar a história através de escritos encontrados na blogosfera.
Sendo uma prova a quatro (entre Portugal, Espanha, França e Itália), a edição de 1950 foi jogada durante dois dias seguidos. Na primeira jornada, tipo meias-finais, o Bordéus derrotou o Atlético de Madrid por 4-2 e o Benfica ganhou à Lázio de Roma por 3-0 com golos de Rosário, Rogério (grande penalidade) e Arsénio, todos na primeira parte. Parece que foi um jogo sem grande história, uma vitória indiscutível, facilitada por um surto de anginas que terá acometido vários jogadores italianos! O Benfica, alinhou com José Bastos, Jacinto Marques, Joaquim Fernandes, Francisco Moreira, Félix Antunes, José da Costa, Corona, Arsénio, Julinho, Rogério Carvalho e José Rosário.

Fica a crónica do Diário de Lisboa (abrir a imagem numa janela individual para ler melhor):
No dia seguinte, a grande final com os franceses do Bordéus foi emocionante.
O Benfica começou da melhor forma, chegando aos 2-0 através de Arsénio e Corona. Mas a equipa de Bordéus, ainda na primeira parte, deu a volta ao resultado, saindo para intervalo a ganhar por 3-2. A segunda parte foi de domínio do Benfica, procurando pelo menos o empate, que acabaria por chegar através de Pascoal, ponta esquerda que foi a única alteração da equipa relativamente ao jogo da véspera.
Seguiu-se um prolongamento de meia-hora, que não alterou o resultado. Havia que jogar-se a finalíssima, marcada para o domingo seguinte, dia 18 de Junho, igualmente no Jamor. Nesta final, o Benfica alinhou com José Bastos, Jacinto Marques, Joaquim Fernandes, Francisco Moreira, Félix Antunes, José da Costa, Corona, Arsénio, Julinho, Rogério Carvalho e Pascoal.

fica a crónica do Diário de Lisboa (abrir a imagem numa janela individual para ler melhor):
Para a finalíssima, o Benfica apresentou uma alteração ao jogo anterior: O extremo José Rosário para o lugar de Pascoal: Bastos; Jacinto e Fernandes; Moreira, Félix e José da Costa; Corona, Arsénio, Julinho, Rogério e Rosário.
Foi o Bordéus que acabou por abrir o marcador, logo aos 11 minutos de jogo. A partir daí, o Benfica carregou sobre o adversário, mas uma superior exibição do guarda-redes Astresse e alguma falta de pontaria dos atacantes portugueses impediam que o resultado se alterasse. Os minutos foram passando, as esperanças dos Benfiquistas diminuindo e o final do jogo aproximava-se. E, já com muitos espectadores resignados, fora do estádio, a caminho dos transportes que os levariam a casa, faltando escassos 20 segundos para os 90 minutos, eis que surge, finalmente, o golo do empate. Foi seu autor Arsénio, homem de muitos golos ao serviço do Benfica, mas nenhum tão importante e decisivo como este.
Os ecos do golo chegaram aos acessos do estádio e os espectadores mais conformados, que já abandonavam, de pronto regressaram aos seus lugares. Haveria lugar a um prolongamento de 30 minutos que, porém, não trouxe golos.
Depois, começaram períodos de 10 minutos que seriam suspensos logo que houvesse um golo. Jogou-se o primeiro, sem golos. Jogou-se o segundo, ainda sem golos. Os jogadores - sempre os mesmos, sem qualquer substituição admitida - já se arrastavam mais do que jogavam. Até que, finalmente, aos 146 minutos de jogo - duas horas e 26 minutos! 5 minutos do 4º prolongamento - quando o sol já se começava a pôr, Julinho, o avançado centro, fez o golo da vitória.
Parece que foi uma jogada confusa. Conta-se que foi mais ou menos assim: Pontapé de canto, Rosário vai marcar, a bola sobra para o centro da área e o guarda-redes francês, Astress choca com os seus colegas que também saltaram à bola, toca ainda com a mão, mas a redondinha sobra para Julinho, que também se tinha elevado nos ares e quando todos olham a bola beijava as redes da baliza do Bordéus…
Morte súbita, pimba! O jogo tinha terminado e o Benfica era Campeão Latino, o público invadiu o relvado para abraçar os jogadores que já não tinham forças para erguer os braços em sinal de vitória. A final mais longa do futebol português tinha terminado e o título ficava em Portugal...
Também se conta que assim que soou o apito final, Corona, desmaiou no campo. Foi levado para os balneários de charola. Os colegas despiram-no, descalçaram-no, puseram-no no duche e nada... A insensibilidade manteve-se, oferecendo uma imagem bizarra, debaixo do chuveiro, com a água tépida a salpicar-lhe o corpo ainda desfalecido. Quando deu sinal de si só foi capaz de dizer que soubera, finalmente, o que era o Paraíso. Os outros Benfiquistas também.

Entretanto no estádio, um pouco a custo Rogério Carvalho subiu a longa escadaria até à tribuna do Jamor para receber a Taça Latina de 1950. Jacinto, que tinha sido o capitão em campo tinha jogado os últimos 30 minutos com o pulso partido e encontrava-se impossibilitado de ir receber o troféu, cedendo a honra ao “Pipi”. Recebeu-a das mãos de Guilherme Pinto Basto e ergueu-a aos céus, com o sol a pôr-se e uma aura de vermelho a envolvê-lo.
Algumas reacções à vitória do Benfica:
Interessante o que se escreveu no Diário de Lisboa sobre este jogo (abrir a imagem numa janela individual para ler melhor):
O Jornal do Benfica também deu asas à alegria
A revista Stadium também reservou espaço para esta tremenda conquista:
Sobre o levantar da Taça, o saudoso Rogério tem uma história:
Era o começo da ascensão do Benfica para voos mais internacionais. A reportagem é de 2010.
Porque os restantes já não eram fisicamente presentes...
De Todos UM
PS1: Agradecimentos ao Chama Gloriosa e ao forum SerBenfiquista. Sem eles o trabalho teria sido muito mais complicado.

PS2: Agradecimentos também ao Rui Miguel Tovar pela utilização deste artigo.

Nota: Artigo apetrechado a 30 de Março de 2020.

11 comentários:

  1. Gostei muito, parabéns. Passei a conhecer mais um pouco da "nossa" história gloriosa, e que gloriosos foram estes rapazes.
    Saudações
    vito g.

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    1. Falta que os que hoje guiam os destinos do clube conheçam a história e não somente os nomes e números.

      Saudações gloriosas vito g.

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  2. Pois, outros tempos outras gentes, outro espetáculo, outro tudo, quase que me atrevo a dizer outro Clube!
    Tal como Portugal que outrora deu novos mundos ao mundo e hoje ...
    Gande abraço meu amigo.

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    1. Foi o início e realmente era ainda a mentalidade clube. Agora é mais corporativa a visão, uma espécie de "let´s make money"...

      Saudações Gloriosas António F.

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  3. Foi a primeira grande conkista internacional do nosso clube,a tal taça ke os andrades andam a dizer ke não conta para nada,claro é muito mais facil ganhar supertaças,a maioria das kuais foram gamádas a outros clubes(a mais vergonhosa a de 94-95,kuando anularam o celebre golo ao Amaral no antro,após o rabeta do Baia ter defendido com as patas fora da área).Mas deixemos de falar em merda,o mais importante é relembrar este momento fantástico do Glorioso.Participamos nesta edição,devido ao titulo de campeão de 1949-1950,o unico ganho num periodo em ke o Sporting tinha o dominio,já ke foi campeão entre 1946-1949 e depois entre 1950-1954.Possuiamos uma grande ekuipa,o jovem Bastos era o guarda-redes,o soberbo Félix era o patrão da defesa,Moreira segurava o meio campo,onde faltou nesse torneio o nosso grande capitão e imortal Francisco Ferreira,e na frente a classe de Rogério Pipi e a capacidade goleadora de Arsenio e Julinho funcionava na perfeição.Apenas me faz um bocado de confusão como estes senhores são na sua maioria completamente eskecidos,pois foram eles ke deram o primeiro troféu internacional de grande dimensão ao Benfica,troféu esse ke mais nenhum clube português tem.Nomes como Felix,Francisco Ferreira,Arsénio,Julinho e o fabuloso Rogério são lendas do nosso Clube.Parabens e obrigado por ter tido a grande ideia de relembrar tão grande conkista.

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    1. Pois Alexandre... O pior é que não tenho no meu baú muitos textos e/ou imagens para engrandecer a publicação. Foi o possível.

      Atenção que não foi a primeira conquista do Benfica. Foi sim do Benfica e de um portugal que ainda é muito pequenino...

      Saudações gloriosas.

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  4. Kuando falo em primeira grande conkista,refiro-me em relação a provas internacionais.Na Taça Latina,ke foi a antecessora da Taça dos Campeões,o Benfica participou por 3 vezes,em 1950 onde venceu,em 1956 onde ficou em terceiro lugar depois de ter perdido o acesso á final com uma derrota por 4-2 com o Milan,garantindo o terceiro posto batendo o Nice por 2-1,e finalmente em 1957 onde fomos vice campeões depois de perdemos a final no Santiago Bernábeu com o Real do galático Di Stefano por 1-0,tendo nas meias finais eliminado o Saint-Etienne por 1-0.No ke refere a esta publicação,louve-se o facto de ser dos poucos blogs ke têm o cuidado de evocar os grandes feitos do nosso Clube.Acredito ke serão poucos os benfikistas,nomeadamente das gerações mais recentes ke conhecam os feitos de imortais como Rogério,Felix,Arsénio ou Francisco Ferreira.

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    1. Sabes Alexandre, preocupo-me mais com a história do Benfica de que com a "silly season".

      Tenho os mesmos receios do que tu, o meu filho haverá de conhecer a história do Benfica como eu a conheço... Ele ainda não tem cabeça para estas coisas mas será informado. É esse receio que tenho, a malta nova sabe do passado mas só do passado recente e muito recente e tende a não passar a informação aos seus!

      Uma das minhas lutas é escrever esta informação e colocá-la aqui na net para que quem se lembrar, possa aqui vir e passar a informação.

      Saudações Gloriosas.

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  5. Excelente... E para quando a taça dos campeões de 1961? estive a ver na secção do museu e há esta conquista a faltar entre as duas primeiras que lá estão.

    FFerreira Viseu

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  6. No meu caso tenho tentado passar para o meu filho tudo akuilo ke sei sobre a enorme historia do Glorioso.Honestamente o ke mais me faz confusão é ir ver um jogo ao nosso Estádio e ver adeptos ke passam a vida a mandar calar outros adeptos porke entendem ke o futebol ao vivo é para ser visto como se estivessemos numa ópera.E muita desta situação agravou-se com a utilização do novo estádio e pela maneira cagona como alguns dos nossos dirigentes se comportam,ou seja akuilo ke era emoção,mistica e uma autentica prática de um culto,transformou-se numa situação banal.Ou seja o verdadeiro povo benfikista foi substituido pela nova vaga de adeptos sem kualkuer alma e sofrimento pelo nosso clube.Uma das maiores desilusões ke tenho em relação ao meu filho,é não lhe poder mostrar ao vivo o ke era o verdadeiro inferno e a verdadeira militancia ke se vivia no antigo estádio.E isto leva-me actualmente a ter muito mais interesse pelo nosso passado,do ke verdadeiramente pela tal silly season,pois mais uma vez vamos cair na armadilha de vender tudo,permitir nova oportunidade para os corruptos se erguerem e dar a esperança ás osgas de sonharem com algo.Mas este é o Benfica de Vieira e sus muchachos,dos 83% ke veneram este estado de coisas.onde a vontade de ganhar foi substituida pelo lucro facil a kualker preço,nem ke para isso seja necessário vender a ekuipa toda.

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  7. É... a silly season traz este sentimento de que a equipa vai ser desmantelada... vamos ver com que ovos jj vai cozinhar, mais vale não ler jornais e sar uns saltos aqui. Sobre ir ao estádio e vibrar, acho que a falta de conquistas recentes ajuda a esse pessimismo e desmoralização mas se quiser sempre pode dar um salto ao Topo Sul e passar os jogos a incentivar.
    Saudações e bom sol
    vito g.

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Ok digam o que bem entenderem.
Depois eu vejo