Confesso que sinto uma enorme afinidade por Rui Costa. Nascemos no mesmo ano e ele, no Benfica, na Fiorentina e no Milan, marcava o jogo. Eu na terra batida e nos sintéticos era um apaixonado pela sua arte e lá tentava copiá-lo.
Conheci-o no estádio da Luz quando marcou aquela bomba frente à Austrália na selecção de sub qualquer coisa. Uns dias mais tarde, reconheci-o quando teve a frieza necessária para, aos dezanove anos de idade, marcar o último penalti que daria o título de bicampeões mundiais a Portugal.
A sua explosão, deu-se já com ele fora dos relvados nacionais pelo que só o poderíamos ver nos resumos de fim-de-semana e quando jogava a selecção de Portugal. Com ele em campo, na selecção nacional, eu sentia segurança. O Benfica foi despachando Veloso, Paneira, Isaías, Mozer, Hélder, Schwarz. Tinha entrado Preud'homme e ficado João Pinto... O deserto estava quente e estava para durar...
Saiu para uma equipa menor porque o Benfica estava roto e precisava de um grande remendo. A estrada era para Barcelona, a sua arte iria ser ampliada por Cruyff, mas a alma e o coração deixaram falar o seu amor mais alto e dirigiu-se para Florença onde foi rei (maestro) e senhor.
Confesso que com a saída de João Pinto, deixei de querer que Rui regressasse. Não fazia sentido colocar uma cereja no topo de uma salada russa com vinagre a mais. Faltavam condimentos para que ele pudesse regressar e ser a peça que iria ditar estradas, vislumbrar luz no beco mais escuro, abrir a porta quando ela não tem fechadura.
Muitas promessas eleitorais foram feitas com o nome dele. Aproveitaram-se do seu Benfiquismo em nome do populismo, tudo valia por mais um voto... Enganos atrás de enganos não beliscaram a imagem que tinha dele. Imagem que destruiu as barreiras do tempo e do espaço, quando chorou porque era profissional e meros instantes depois se lembrou que era do Benfica. Haverá maior injustiça do que esfaquear quem se ama, mesmo que tenha sido numa brincadeira (jogo amigável)?
Mas ele regressou, e foi uma injustiça! Não havia quem o compreendesse. Outros tempos, parca inteligência dos que o acompanhavam. Outros tempos e um corpo mais cansado. Outros tempos e um polvo mais acomodado. Foi penoso ver o último dos maestros de Portugal vestido de Vermelho e Branco no meio de um futebol a preto e branco.
Rui Costa também marcou o meu adeus definitivo à selecção. Tínhamos um brasileiro no leme que decidiu substituir o maestro por um atira-botas que acabou a carreira por se dopar. Era o tempo dos oliveira e dos mendes que asfixiava o futebol...
Quando Rui disse adeus às quinas, deixei de ver ainda mais futebol. Era só Benfica, e a selecção algumas poucas vezes.
Fiquei sempre admirado por nunca se dar destaque à carreira dele na Fiorentina e no Milan. Era só Figo (merecidamente com certeza), Paulo Sousa (porque não), o frangueiro do baía, o caceteiro do couto e até mesmo João Pinto era escurecido pela imprensa...
Procurava saber mais sobre o que lá fora diziam dele. Il Regista, Rui foi considerado O Director. Aquele que dirige, regula ou administra, o Mentor, ou o Guia. Foi o melhor médio do cálcio.
Há um jogo que ajuda as pessoas a compreender o que ele era e que para sempre ficará na minha memória: Tinha um exame para fazer no dia seguinte, mas portugal jogava o primeiro jogo no europeu de 2000. Estava com um grande amigo e decidimos ir a uma estação de caminhos de ferro ver a partida. Entre ferroviários, revisores, maquinistas e passageiros a partida começou mal. Já na segunda rodada, para afogar as mágoas, Figo reacendeu as esperanças. João Pinto (despedido por VeA) e Nuno Gomes (de malas aviadas para Florença) deram a volta ao resultado. Vendo os lance completos (mais abaixo) João e Nuno foram apenas a ponta final de duas obras de arte fabricadas por Rui Costa.
Foi daqueles jogos... E os ferroviários, maquinistas, revisores, passageiros mais aqueles dois em alegria total. Quantas rodadas de cerveja, uma noite mal dormida e um exame mal preparado...
Outro exemplo da grandiosidade foi dado por Eriksson. No Euro 2004, já com trinta e dois anos e com a guia de marcha assinada pelo scolari, o sueco seleccionador inglês sabia que as coisas não eram bem assim... Tinha sido ele a lançar Il maestro em 1991 1992, e sabia bem o que a casa gastava. A imagem da frustração de Eriksson após Rui ter marcado aquele golão na catedral (ver vídeo), só atesta o valor que o playmaker português tinha ainda para dar. Para dar e para vender!
Nem agora lho dão porque ele é do Benfica. Porque não anda a beijar cus e mãos. Antes assim Rui.
Aqui ficam os seus dados ao serviço do Benfica:
Ele que só vestiu quatro camisolas após se ter sagrado campeão do mundo:
Conheci-o no estádio da Luz quando marcou aquela bomba frente à Austrália na selecção de sub qualquer coisa. Uns dias mais tarde, reconheci-o quando teve a frieza necessária para, aos dezanove anos de idade, marcar o último penalti que daria o título de bicampeões mundiais a Portugal.
A sua explosão, deu-se já com ele fora dos relvados nacionais pelo que só o poderíamos ver nos resumos de fim-de-semana e quando jogava a selecção de Portugal. Com ele em campo, na selecção nacional, eu sentia segurança. O Benfica foi despachando Veloso, Paneira, Isaías, Mozer, Hélder, Schwarz. Tinha entrado Preud'homme e ficado João Pinto... O deserto estava quente e estava para durar...
Saiu para uma equipa menor porque o Benfica estava roto e precisava de um grande remendo. A estrada era para Barcelona, a sua arte iria ser ampliada por Cruyff, mas a alma e o coração deixaram falar o seu amor mais alto e dirigiu-se para Florença onde foi rei (maestro) e senhor.
Confesso que com a saída de João Pinto, deixei de querer que Rui regressasse. Não fazia sentido colocar uma cereja no topo de uma salada russa com vinagre a mais. Faltavam condimentos para que ele pudesse regressar e ser a peça que iria ditar estradas, vislumbrar luz no beco mais escuro, abrir a porta quando ela não tem fechadura.
Muitas promessas eleitorais foram feitas com o nome dele. Aproveitaram-se do seu Benfiquismo em nome do populismo, tudo valia por mais um voto... Enganos atrás de enganos não beliscaram a imagem que tinha dele. Imagem que destruiu as barreiras do tempo e do espaço, quando chorou porque era profissional e meros instantes depois se lembrou que era do Benfica. Haverá maior injustiça do que esfaquear quem se ama, mesmo que tenha sido numa brincadeira (jogo amigável)?
Mas ele regressou, e foi uma injustiça! Não havia quem o compreendesse. Outros tempos, parca inteligência dos que o acompanhavam. Outros tempos e um corpo mais cansado. Outros tempos e um polvo mais acomodado. Foi penoso ver o último dos maestros de Portugal vestido de Vermelho e Branco no meio de um futebol a preto e branco.
Rui Costa também marcou o meu adeus definitivo à selecção. Tínhamos um brasileiro no leme que decidiu substituir o maestro por um atira-botas que acabou a carreira por se dopar. Era o tempo dos oliveira e dos mendes que asfixiava o futebol...
Quando Rui disse adeus às quinas, deixei de ver ainda mais futebol. Era só Benfica, e a selecção algumas poucas vezes.
Fiquei sempre admirado por nunca se dar destaque à carreira dele na Fiorentina e no Milan. Era só Figo (merecidamente com certeza), Paulo Sousa (porque não), o frangueiro do baía, o caceteiro do couto e até mesmo João Pinto era escurecido pela imprensa...
Procurava saber mais sobre o que lá fora diziam dele. Il Regista, Rui foi considerado O Director. Aquele que dirige, regula ou administra, o Mentor, ou o Guia. Foi o melhor médio do cálcio.
Há um jogo que ajuda as pessoas a compreender o que ele era e que para sempre ficará na minha memória: Tinha um exame para fazer no dia seguinte, mas portugal jogava o primeiro jogo no europeu de 2000. Estava com um grande amigo e decidimos ir a uma estação de caminhos de ferro ver a partida. Entre ferroviários, revisores, maquinistas e passageiros a partida começou mal. Já na segunda rodada, para afogar as mágoas, Figo reacendeu as esperanças. João Pinto (despedido por VeA) e Nuno Gomes (de malas aviadas para Florença) deram a volta ao resultado. Vendo os lance completos (mais abaixo) João e Nuno foram apenas a ponta final de duas obras de arte fabricadas por Rui Costa.
Foi daqueles jogos... E os ferroviários, maquinistas, revisores, passageiros mais aqueles dois em alegria total. Quantas rodadas de cerveja, uma noite mal dormida e um exame mal preparado...
Outro exemplo da grandiosidade foi dado por Eriksson. No Euro 2004, já com trinta e dois anos e com a guia de marcha assinada pelo scolari, o sueco seleccionador inglês sabia que as coisas não eram bem assim... Tinha sido ele a lançar Il maestro em 1991 1992, e sabia bem o que a casa gastava. A imagem da frustração de Eriksson após Rui ter marcado aquele golão na catedral (ver vídeo), só atesta o valor que o playmaker português tinha ainda para dar. Para dar e para vender!
Nem agora lho dão porque ele é do Benfica. Porque não anda a beijar cus e mãos. Antes assim Rui.
Aqui ficam os seus dados ao serviço do Benfica:
Ele que só vestiu quatro camisolas após se ter sagrado campeão do mundo:
E a da selecção claro:
Foi um jogador a necessitar sempre de escolta:
Um vencedor.
Ele que agora anda por ali entre a Avenida General Norton de Matos e o Seixal sem a malta saber muito bem o que é que ele faz... Sabemos que foi pescar outro galáctico para lhe entregar o número 10...
Tenho a sensação que poderia dar muito mais ao Benfica. Tenho o feeling de que a vida lhe mostrou um alçapão e que ele teve de se vergar para lá não cair. Entendo que seja leal por definição e que pena que a lealdade se compre nos dias de hoje, quando ele a entregou de mão beijada ao clube desde os tempos de formação...
Por tudo Rui, porque a tua magia não se findou entre os anos que passaste em Florença e Milão, por tudo um sincero agradecimento. Um agradecimento maior do que aquela chapelada que fizeste ao keeper da Irlanda em 1995.
"Emocionado sim, mas com orgulho de poder acabar desta forma. Acabo cansado, acabo exausto mas acabo muito feliz. Acabo no meu estádio, acabo no meio da minha gente." Pena que estas palavras (e quem as profere) causem inveja, que pena que as vejam como ameaça, quando esta frase só me faz transbordar de alegria...
Chamem-me saudosista! Tudo na boa pessoal, sem ressentimentos. Mas quando começo a hiperventilar, tenho de tomar este tipo de soro de modo a reencontrar o Benfiquismo que nunca perdi mas que algo quer fazer desvanecer.
Por tudo Rui, porque a tua magia não se findou entre os anos que passaste em Florença e Milão, por tudo um sincero agradecimento. Um agradecimento maior do que aquela chapelada que fizeste ao keeper da Irlanda em 1995.
E, pronto Rui. O prazer foi todo meu. Pena que não te conheci pessoalmente, mas pode ser que um dia aconteça...
E Pluribus UNUM
Emocionei-me a rever estas imagens, como é possível, um adulto pai de um filho, sentir a lágrima a querer escorrer? Saudade deste senhor! Ainda acredito que ele vai dar muito pelo Benfica, eu tenho-o como o nosso Messias. É pena estar abafado...
ResponderEliminarÉ graças a estas demonstrações que somos inigualáveis, de todos Um.
Abraço
vito g.
obrigado pelo post
ResponderEliminarabraço
Luís Sobral está a escrever um artigo sobre os últimos dez anos do Benfica (e de Vieira) e gostava de ter a vossa opinião: datas, factos, sucessos, insucessos. Quem quiser contribuir só precisa de enviar um mail para lsobral@mediacapital.pt. O resultado sai na revista Maisfutebol Total de sábado. Obrigado, desde já.
ResponderEliminarSó mais uma nota: os contributos de qualidade para o artigo sobre a última década de Benfica verão os autores citados e, se tiverem blogues ou sites, um link para lá. É o mínimo, claro. Obrigado pela ajuda, desde já. Mail: lsobral@mediacapital.pt.
Muito bonito!, o Rui sabe que continuamos a respeitá-lo, admirá-lo e que contamos com ele. Foi e é um homem honrado...um cavalheiro!, saíu da seleção sem um queixume, para promoção do Deco, imposto a Sclolari - jamais lhe perdoarei -, que asfixiava no Porto, de cofres vazios. É por estas e por outras que a atual seleção pouco me diz, embora, na hora da verdade...não lhe renegue apoio. No pasaran!
ResponderEliminarPois... Estamos lá sempre enquanto outros se espumam por ela quando as coisas não lhe correm bem...
ResponderEliminarLer este artigo, ver a foto do Figo com o Rui Costa, os dois comandantes da selecção e pensar que jamais voltarei a ver o nosso Maestro a jogar, entristecem-me e deixam saudade, pelo que representa e pelos seus valores que hoje em dia é raríssimo . Os vídeos não a colmatam, só a aumentam.
ResponderEliminarBonita homenagem a Rui Costa e gostaria que ele tivesse conhecimento dela.
Os meus parabéns!
Também eu Farfalho. Pode ser que alguém tenha/conheça forma de o contactar...
EliminarUm dos maiores talentos de sempre do futebol português.A sua ida para a Fiorentina em vez do Barcelona,numa atitude de grande amor pelo Benfica,privou o nosso Maestro de ter um reconhecimento justo em termos de troféus´,que o seu talento merecia.Não tenho duvidas nenhumas que se o seu destino fosse o Barça o nosso 10 seria Bola de Ouro.Comparo um pouco a sua carreira com a do Futre,pois ambos passaram os seus melhores anos em equipas que não eram de grande dimensão.Quando foi para o Milan ainda ganhou uma Champions mas já não era o Rui Costa dos melhores anos na Fiorentina.Um jogador que vence o premio de melhor 10 do híper exigente Cálcio,á frente do genial Zidane,é um autentico fora de serie.Obrigado por todo o maravilhoso futebol que nos mostras-te Rui Manuel César Costa.
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